Pelo menos mil trabalhadores potiguares são enviados anualmente para fazendas do Centro-Sul do Brasil em situações que caracterizam o tráfico de pessoas, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em estados como Mato Grosso e Goiás, eles são tratados como escravos e saem do Rio Grande do Norte já endividados: a passagem de ida, as roupas e qualquer adiantamento são descontados dos primeiros salários recebidos. Enquanto isso, dentro do Rio Grande do Norte, cada fiscalização realizada pela Superintendência Regional do Trabalho (SRT/RN) nas feiras livres de Natal e do interior flagra cerca de 40 crianças em situação de exploração. Muitas delas são beneficiadas por programas sociais como o Bolsa Família. E os números conferem ao RN o 10º lugar no ranking de trabalho infantil no país.
O quadro assustador do trabalho degradante em solo potiguar preocupa a SRT que fiscaliza situações de risco. Auditora da Superintendência e coordenadora do Fórum Estadual do Trabalho Infantil, Marinalva Cardoso, revela que, no caso do tráfico de trabalhadores, as pessoas costumam ser levadas para o destino em ônibus de turismo, como se fossem viajantes comuns. Como a fiscalização apertou, a estratégia das empresas que recrutam esse tipo de trabalho mudou. "Sabemos que muitos estão saindo do estado e indo até a Paraíba para de lá pegarem o ônibus. Mas estamos tentado descobrir como o transporte está sendo feito". A prática não é nova e o primeiro registro desse tipo de situação foi feito há mais de 40 anos, sendo Currais Novos o município de onde os trabalhadores costumavam sair.
Sobre a exploração de crianças, Marinalva lembra que o retrato norte-riograndense não é dos melhores, mas que o estado já avançou bastante. Segundo ela, o Fórum do Trabalho Infantil possui 18 anos de atuação e é o mais antigo do Brasil. Além disso, o fato da fiscalização ser forte na zona rural tem impedido que a prática se espalhe nessas áreas. "Identificamos muitas situações de risco nas feiras livres e semáforos, com crianças limpando vidros de carro".
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